segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ritalina: No Brasil, discussão é prematura

Fonte: Folha de São Paulo

No Brasil, discussão é prematura

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos pesquisadores no Brasil que mais conhece os efeitos da Ritalina é o argentino Martín Cammarota, da PUCRS (Pontifícia Universitade Católica do Rio Grande do Sul). Em parceria com o neurocientista Iván Izquierdo e outros colegas, ele conduziu o primeiro estudo em pessoas mostrando o efeito da droga sobre a persistência de memórias adquiridas horas atrás. Antes disso, os efeitos conhecidos eram relacionados à atenção.
Ainda assim, Cammarota disse à Folha que discutir o uso de Ritalina para desempenho acadêmico é prematuro, sobretudo no Brasil. "O melhor aprimoramento cognitivo que estudantes brasileiros podem ter é assistir a aulas de professores que não ganhem só R$ 200 de salário", afirma. "Essa discussão toda é um pouco ingênua."
Segundo o neurocientista, é equivocado chamar a Ritalina de aditivo para a cognição. "O que ela faz é melhorar certas partes do aspecto de processamento de memória", diz. "Não foi demonstrado ainda que essas drogas aumentam a cognição, a inteligência. Nenhum burro vai se converter em um Einstein porque toma dez quilos de Ritalina toda semana."
Para Cammarota, demonizar o uso de drogas "off label" também não é o caso. "Eu não negaria a ninguém a liberdade de tomar Ritalina, mas diria que a chance de que isso faça bem a você é muito pequena se você não tem nenhuma patologia que requeira isso."
Uma vez que se tome cautela com a questão da segurança, diz o neurocientista, não deve haver razão a priori para a proibição. "Quando aplico provas aqui, não faço testes nos alunos para saber o que eles tomaram antes", afirma. "Hoje, você pode conseguir em qualquer lugar o Viagra, que é uma droga que também tem efeitos colaterais. Por que não a Ritalina? Hoje em dia, discutir o sexo é menos tabu do que discutir a cognição e a inteligência humana." (RG)