terça-feira, 6 de julho de 2010

Falta de referência - Entrevista com Hugo Nervi, da Faculdade de Educação da Universidade das Américas, no Chile

Falta de referência | Revista Educação

Falta de referência
Conferência mostra que ainda é necessário investir em avaliações sobre o impacto das novas tecnologias na aprendizagem escolar
Beatriz Rey - Fonte Revista Educação

De todos as temáticas relacionadas ao uso de tecnologia na educação, há uma que tem preocupado mais expressivamente os principais teóricos da área: a ausência de avaliações que indiquem os impactos das chamadas tecnologias da informação e comunicação (TICs) na sala de aula. A angústia não é só nacional. Os especialistas estrangeiros presentes na Conferência Internacional "O impacto das TICs na Educação", realizada pela Unesco em Brasília, no mês de abril, compartilharam o esforço pela busca de metodologias capazes de responder à seguinte pergunta: afinal, a tecnologia pode ou não ter impacto positivo na aprendizagem do aluno?

As tentativas se espalham mundo afora. Um documento produzido em 2006 pela Comissão Europeia em TICs avalia que há três tipos de estudos sendo conduzidos naquele continente. O primeiro, dedicado à avaliação em termos de infraestrutura e acesso, concentra-se na disponibilidade de computadores, número de computadores por escolas e nível de conectividade, entre outros. O segundo, considerado um nível acima do anterior, busca identificar e medir o uso da tecnologia no ambiente escolar e também seu uso doméstico, ambos com fins educacionais. Por último, há poucos que estudam se há ou não uma relação de causa e efeito entre tecnologia e educação. Para justificar a falta de produção nessa área específica, o documento cita a dificuldade encontrada pelos pesquisadores para isolar a tecnologia de todas as outras variáveis que incidem sobre a aprendizagem do aluno.

"Se a tecnologia está dentro de um conjunto de fatores que afetam o desempenho, como posso dizer que ela faz diferença?", questiona Ocimar Alavarse, professor da Feusp. Como fatores que moldam a aprendizagem, Ocimar cita o nível socioeconômico das famílias (e, consequentemente, do aluno) e o trabalho do professor. Para ele, além da tarefa de isolar a tecnologia como variável, é também preciso definir o tipo de uso que está sendo feito do computador. Por exemplo: há uma proposta pedagógica por trás da ferramenta? "O pesquisador precisa ir à escola para entender isso. Apenas um dia de estudo não dará essa resposta. Para a interferência externa ser diminuída, é preciso ficar no mínimo duas semanas ali", avalia.

A professora Leila Iannone, consultora da Unesco, acrescenta outros elementos que dificultariam o trabalho dos pesquisadores. A grande flutuação do corpo docente no sistema público é o primeiro deles. Muitos professores pedem afastamento, remoção ou licença das escolas onde trabalham. "Se você começa um projeto piloto, provavelmente na segunda etapa uma parte do corpo docente será perdida", explica. Outro problema é que, como a cultura avaliativa é recente nessa área, muitos apostam na avaliação ao final do processo e não do processo em si. "No Brasil, ainda é novo avaliar o passo a passo", diz.

Tentativa
Durante o Congresso, Miguel Nussbaum e Patricio Rodríguez, da Escola de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Chile, apresentaram os resultados de um estudo que realizaram com mais de 200 alunos de nível socioeconômico baixo, provenientes de escolas públicas espalhadas pelo país. A dupla estudou a inserção do Eduinnova nos colégios. O programa é comandado por Nussbaum na PUC desde 2005 e aposta no trabalho colaborativo em grupos pequenos de alunos através de computadores interconectados. O objetivo era avaliar a eficácia do modelo pedagógico, a efetividade da intervenção e a eficiência do programa (no que diz respeito à fidelidade da intervenção, ao custo e ao impacto na aprendizagem dos alunos).

Na primeira etapa da pesquisa, realizada em 2002, os professores avaliaram a eficácia do programa com alunos de 1º e 2º anos do ensino fundamental de uma escola em Santiago. "Em uma aula de matemática, os alunos aprendiam a contar por meio de cartas numeradas. Eles se dispersavam e era difícil para o professor controlar a sala de aula. Quando o computador entra na sala, serve como uma espécie de andaime. O professor pode trabalhar com mais grupos porque eles ficam mais concentrados", explicaram. Na segunda etapa, foram analisadas aulas de física em salas de ensino médio de cinco escolas durante os anos de 2004 e 2005/2006. Nos dois momentos, alunos que usaram a tecnologia e que não usaram tecnologia foram submetidos a avaliações que mediam o quanto haviam aprendido. A partir do cruzamento desses dados, os pesquisadores chegaram aos resultados ("tamanhos do efeito"). Uma das conclusões é que os alunos de professores com alto nível de adoção do Eduinnova produzem melhores resultados de aprendizagem em relação àqueles que têm um nível menor - o tamanho do efeito passa de 0,41 para 0,56 (a escala usada pelos pesquisadores foi de 0,2 a 0,8). Em outras palavras, um mínimo de 13,09% e um máximo de 19% do total de alunos desses grupos ficaram acima da média nas notas dos testes aplicados pelos pesquisadores. "Também pudemos perceber nesse momento que o papel do professor é fundamental, já que aqueles que não se apropriaram adequadamente da tecnologia não tiveram bons resultados", explicam.

A primeira coisa que chama a atenção de Ocimar Alavarse é a falta de familiaridade que esses alunos poderiam ter com a tecnologia. Como o nível socioeconômico é mais baixo, o uso do computador pode ter sido uma novidade para eles. "Se a pesquisa tivesse sido feita com alunos que conhecessem mais a ferramenta, será que a concentração teria sido tão grande?", pergunta. Para Alavarse, o papel do professor como mediador do uso da ferramenta mostra que a tecnologia em si mesmo não resolve o problema da aprendizagem. "Precisamos potencializar o que o computador pode fazer e, para isso, a presença do professor é fundamental. Isso vale para o livro também: é o docente que organiza o uso", afirma.


ENTREVISTA
Um dos especialistas presentes na Conferência da Unesco era Hugo Nervi, da Faculdade de Educação da Universidade das Américas, no Chile. Durante os anos de 2005 e 2009, ele trabalhou na área de competências em TIC e desenvolvimento curricular no Centro de Educação e Tecnologia do Ministério de Educação (Enlaces). A instituição é responsável, entre outras coisas, pelo aumento do acesso à internet nas escolas, política sobre a qual Nervi fala na entrevista abaixo.

No Chile, a tecnologia tem grande alcance nas escolas. Como se configura o uso das ferramentas?
Houve uma inversão muito grande nos últimos quatro anos. Aumentou-se em três vezes a presença da tecnologia nas escolas. De uma relação de 27 alunos por computador, hoje temos 8 alunos por computador. Você tem acesso ilimitado, com a presença de lousas digitais e projetores. Contudo, toda essa infraestrutura corre o risco de não ser usada. Se não existir um plano de uso e de liderança para o emprego da tecnologia na escola, e uma formação docente adequada, a tecnologia não será empregada.

Mas a tecnologia foi incorporada ao currículo da formação dos professores?
A tecnologia entrou na formação inicial dos professores no sentido de orientar, por exemplo, o desenvolvimento de habilidades instrumentais e proporcionar o conhecimento das ferramentas de processamento de textos e de planilhas. O que não falta hoje no Chile é a investigação da inovação pela inovação. Por exemplo: um projeto que elabore o uso de vídeos e jogos no desenvolvimento da leitura em crianças de 8 e 9 anos. Não é isso que buscamos na formação inicial docente. Não queremos professores investigadores de tecnologia. Queremos professores que se apropriem dela como ferramenta de trabalho. Nesse sentido, a integração curricular deveria acontecer em todas as áreas de sua formação. Na formação geral, nas suas especialidades e na formação prática. Assim, os alunos conhecerão a tecnologia com valor pedagógico. A tecnologia tem de formar parte da trama do currículo de formação docente. Em que momento estamos hoje? Há projetos locais em que a inovação é produto de iniciativas pontuais.

E como a escola pode fazer um plano para o uso da tecnologia?
Quando o Ministério da Educação optou por aumentar o acesso, não pretendia entregar a tecnologia irresponsavelmente, como uma medida social. A ideia era apoiar o uso das ferramentas na aprendizagem. A escola recebe tecnologia apenas se justifica seu uso em um projeto educativo. É preciso dizer como e em que ela vai ser utilizada, além estabelecer maneiras para medir seu impacto. Uma coisa está atrelada à outra. Há um formulário on-line que deve ser enviado ao Ministério. É um acordo de uso.

Como podemos explicar a aposta em tecnologia dos governos latino-americanos, se não havia avaliações de impacto amplas?
Há muitas saídas para avaliar o impacto hoje em dia. Pode-se avaliar para medir o impacto na aprendizagem, verificar o uso, medir a apropriação das ferramentas pelos professores. São avaliações distintas. As políticas de cada país têm metas específicas. São elas, as metas específicas, que devem ser avaliadas. Não podemos dizer que não há, em toda a América Latina, resultados de impacto na aprendizagem. Sim, há. Há resultados a partir de projetos locais. O que falta é uma reflexão sobre que tipo de pedagogia a tecnologia gera, para dizer que há uma mudança na aprendizagem.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Confira as notas das escolas no Ideb 2009

Para o arquivo (excel) com todas as escolas confira os links abaixo:

Confira o Ideb das escolas da 1ª à 4ª série (arquivo em excel)


Confira o Ideb das escolas da 5ª à 8ª série (arquivo em excel)



Confira as notas das melhores e piores escolas:

Escolas do ensino fundamental regular (até 4ª série) com notas mais altas:

Escolas com notas mais altas pelo Brasil - Ensino Fundamental Regular (até a 4ª série)
Nome da escola Localização Rede Nota no Ideb 2009
EMEB Aparecida Elias Draibe Cajuru (SP) Municipal 9,0
EM Andre Ruggeri Cajuru (SP) Municipal 8,8
EM Bairro Dom Bosco Cajuru (SP) Municipal 8,8
Escola Estadual Dom Bosco Eirunepé (AM) Estadual 8,7
EM Mousart Alves da Silva Cajuru (SP) Municipal 8,5
Esc. Est. São José Fonte Boa (AM) Estadual 8,4
João Paulo I E M Para Ed. Inf. Ens. Fund. Foz do Iguaçu (PR) Municipal 8,4
EE Osório de Morais Coromandel (MG) Estadual 8,3
EM José Alves Palma da Silva Dr. Cajuru (SP) Municipal 8,3
EMEIEF Thereza Gabriel Zoccal Neves Paulista (SP) Municipal 8,3



Escolas do ensino fundamental regular (até 4ª série) com notas mais baixas:

Escolas com notas mais baixas pelo Brasil - Ensino Fundamental Regular (até a 4ª série)
Nome da escola Localização Rede Nota do Ideb 2009
EE Jovem Protagonista Belo Horizonte (MG) Estadual 0,2
Escola Mul. Boa União Eunápolis (BA) Municipal 0,5
EMEIF Firmo Santino da Silva Alagoa Grande (PB) Municipal 0,5
Esc. Mul. Prof. Fco. de Assis V. Cavalcanti Natal (RN) Municipal 0,5
ERC E F Juscelino Kubstcheck Bom Jesus do Tocantins (PA) Estadual 0,6
EEEF de Audiocomunicação João Pessoa (PB) Estadual 0,6
Esc. Mun. Miriam Alves Ferreira Caroebe (RR) Municipal 0,6
Esc. Manoel Teixeira Tarauaca (AC) Municipal 0,7
Esc. Mul. Dom Climerio Almeida Andrade Vitória da Conquista (BA) Municipal 0,7
Grupo Escolar Amelia Rodrigues Amélia Rodrigues (BA) Municipal 0,8
Centro Educacional de Apuarema Apuarema (BA) Municipal 0,8
EMEF de Arajaí Cameta (PA) Municipal 0,8


Escolas do ensino fundamental regular (5ª a 8ª séries) com notas mais altas:

Escolas com notas mais altas pelo Brasil - Ensino Fundamental Regular (de 5ª a 8ª série)
Nome da escola Localização Rede Nota no Ideb 2009
Colégio de Aplicação do CE da UFPE Recife (PE) Federal 8,0
Colégio Pedro II Rio de Janeiro (RJ) Federal 7,6
C.E. Oscar Batista Cambuci (RJ) Estadual 7,4
Colégio Militar de Santa Maria Santa Maria (RS) Federal 7,3
Colégio Militar de Salvador Salvador (BA) Federal 7,1
Colégio Militar de Campo Grande Campo Grande (MS) Federal 7,1
Militar de Fortaleza Colégio Fortaleza (CE) Federal 6,9
Colégio Militar de Curitiba Curitiba (PR) Federal 6,9
Col. Militar do Corpo de Bombeiros do CE Fortaleza (CE) Estadual 6,8
Escola de Aplicação Professor Chaves Nazaré da Mata (PE) Estadual 6,8
Escola do Recife - Facp UPE Recife (PE) Estadual 6,8
Centro Mun. de Educação Girassol São José do Cedro (SC) Municipal 6,8


Escolas do ensino fundamental regular (5ª a 8ª séries) com notas mais baixas:

Escolas com notas mais baixas pelo Brasil - Ensino Fundamental Regular (de 5ª a 8ª série)
Nome da escola Localização Rede Nota no Ideb 2009
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Maestro José Siqueira Conceição (PB) Estadual 0,7
EEEFM Desembargador Artur Virgínio de Moura Matinha (PB) Estadual 0,7
Esc. Mul. Claudio Manuel da Costa Vitória da Conquista (BA) Municipal 0,7
EEES Rio de Janeiro Rio de Janeiro (RJ) Estadual 0,7
C.E. Rosa do Povo Rio de Janeiro (RJ) Estadual 0,7
Esc. Mul. Carlos Gomes Manaus (AM) Municipal 0,8
Murilo Aguiar EMEIF Fortaleza (CE) Municipal 0,8
Grupo Escolar Roberto Santos Candido Sales (BA) Municipal 0,8
C.E. Francisco Cabrita Rio de Janeiro (RJ) Estadual 0,8

MEC divulga notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) por UF; consulte a situação do seu Estado

O MEC (Ministério da Educação) divulga, nesta segunda-feira (5), as notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que mede a qualidade da educação no Brasil. O UOL Educação preparou um infográfico para a consulta por unidade da federação. Ao selecionar o nível de ensino (anos iniciais, anos finais ou ensino médio), clicando nas opções no canto inferior direito, o internauta poderá consultar a nota e compará-la ao Ideb da região e do país. Também conseguirá visualizar a evolução do índice desde 2005. Ainda é possível visualizar se as unidades aumentaram ou dimunuíram suas notas e quais delas antigiram a meta nacional, clicando nas abas no topo do gráfico.

Confira o infográfico.

O que é o Ideb

O Ideb é a "nota" do ensino básico no país. Numa escala que vai de 0 a 10, o MEC (Ministério da Educação) fixou a média 6, como objetivo para o país a ser alcançado até 2021.

O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar (ou seja, com informações enviadas pelas escolas e redes), e médias de desempenho nas avaliações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o Saeb - para os Estados e o Distrito Federal, e a Prova Brasil - para os municípios.

Criado em 2007, o Ideb serve tanto como dignóstico da qualidade do ensino brasileiro, como baliza para as políticas de distribuição de recursos (financeiros, tecnológicos e pedagógicos) do MEC. Se uma rede municipal, por exemplo, obtiver uma nota muito ruim, ela terá prioridade de recursos.

Fonte: Uol Educação.

Verba extra não melhora escolas com desempenho ruim

Fonte: Agência Estado

Além de medir a qualidade do ensino no País, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009 revela o tamanho do desafio que é mudar a situação de escolas e cidades com desempenho muito ruim. Municípios e escolas com pior desempenho - cujo resultado é divulgado hoje - receberam prioridade nas ações do MEC (Ministério da Educação), mas em muitos casos, nem essa ajuda extra resolveu.

No foco do ministério encontram-se 1.822 municípios com notas inferiores a 4,2 em 2007 e mais 28 mil escolas com notas até 3,8 no mesmo ano. Desde então, mais de R$ 400 milhões foram liberados para as escolas. Mesmo recebendo um auxílio em dinheiro e suporte técnico, pouco mais da metade dos piores municípios no ranking nacional conseguiu melhorar o indicador no intervalo de dois anos, entre as duas últimas edições do Ideb (2007 e 2009), a ponto de superar suas respectivas metas.

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo selecionou 155 municípios com notas até 2 na segunda etapa do ensino fundamental (de 5ª a 8ª série). A nota 2 equivale a menos da metade da média nacional (4,6). O levantamento revela que, na avaliação do desempenho, quase a metade (45%), o que corresponde a 70 municípios, ou não conseguiu alcançar a meta ou piorou a nota - nesse universo, 58 municípios (37,4%) evoluíram, mas não alcançaram a nota, e 12 (8%) andaram para trás entre 2007 e 2009. Os outros municípios melhoraram a ponto de, pelo menos, alcançar a meta.

Na amostra das 4.ª séries selecionada pelo Estado, com 47 municípios que tinham nota 2 no Ideb de 2007, 25 cidades, o que dá pouco mais da metade (53,1%), alcançaram a meta. Outros 22 municípios (47%) não alcançaram a meta. As metas variam de escola para escola e de município para município, dependendo do ponto de partida de cada um. Nas próximas duas semanas, técnicos do ministério cruzarão dados do Ideb para avaliar o comportamento das escolas e municípios com pior desempenho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.