quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à reportagem publicada na Veja

Redação Portal IMPRENSA
Ana Maria Araújo Freire, a Nita, viúva de Paulo Freire - um dos maiores educadores brasileiros, criador do método Paulo Freire de educação - divulgou uma carta de repúdio a uma reportagem publicada no dia 20 de agosto na revista Veja, da Editora Abril.
Intitulada "O que estão ensinando a ele?", a matéria discorreu sobre a qualidade do ensino no Brasil baseando-se em uma pesquisa sobre o assunto. Escrita por Monica Weinberg e Camila Pereira, o texto diz que muitos professores "idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização".
A pesquisa mostrou que os professores entrevistados preferem Freire ao físico teórico alemão Albert Einstein. "Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado", afirma o texto da Veja.
Em carta, a educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire registra "sua mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista Veja oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país". Segundo ela, a revista age de maneira "camuflada" em favor reacionarismo "dos poderosos e endinheirados da direita", enodoando pessoas "as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar".
Ela lembra que não é a primeira vez que a revista investe sobre alguém que "é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista". Quando seu marido faleceu, em 1997, o obituário da Veja "apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas", não lamentando sua morte, como fizeram todos os outros veículos de comunicação.
"Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia', esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil", diz a carta de Nita.
Para ela, a Veja está "apavorada" com o que educador plantou, quer torná-lo insignificante e eliminar do espaço escolar "o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião". Entretanto, a historiadora acredita que "querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia".
Procurada pelo Portal IMPRENSA, até o momento a revista Veja não se pronunciou sobre o assunto.
Fonte: Portal Imprensa 15/09/2008