"O profissional de educação está sem moral com o aluno", reclama Milleti. "Muito disso acontece porque o professor é visto como um quebra-galho, alguém que não conseguiu fazer mais nada na vida, e não como uma pessoa que estudou e é capacitada para transmitir conhecimento. Essa visão ficou no passado." Em consonância com os resultados do levantamento, que apontam uma visão pessimista dos docentes sobre a evolução do sistema educacional brasileiro nos últimos seis anos, o professor de Brasília critica as políticas públicas do governo federal para a área de educação como "excessivamente voltadas para cumprir estatísticas".
Para Milleti, o governo falha em aumentar a qualidade do ensino básico, ao priorizar metas de número de matrículas e aprovações. "O que se tem visto é um governo pouco interessado em arrumar a educação já a partir da base", argumenta. "A preocupação é só com a estatística, o nível de aprendizado do aluno fica em segundo plano", observa. De acordo com a pesquisa, 49,4% do professorado no País considera que a educação brasileira piorou nos últimos anos.
Problema cultural
No Congresso, a constatação dos professores de que falta participação dos pais na educação dos filhos é apontada como um problema cultural e social. O presidente da Comissão de Educação do Senado, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), explica que, em muitos casos, os pais não participaram de um sistema educacional como os filhos e, portanto, não sabem como orientá-los no aprendizado.
Outro problema seria que a educação não é vista por algumas famílias como um valor, mas sim, um caminho para a sobrevivência. "A educação, às vezes, não é encarada como uma questão fundamental para a vida, mas sim como uma maneira de se garantir um salário no final do mês", avalia. O senador acredita que o governo também precisa atacar o problema e articula a aprovação de um projeto que obrigue aos pais dos beneficiados do programa Bolsa Família a comparecer pelo menos uma vez ao mês na escola, mas a base governista não demonstra interesse em votar a proposta.
Quanto à pouca influência dos livros didáticos na formação dos estudantes, o pedetista aposta que a solução está na instituição do horário integral para as escolas. "Hoje, o aluno sai da aula, vai para casa e nem lembra do livro", afirma. "Com o horário integral, obrigatoriamente ele terá que se debruçar sobre as lições."
Fonte: JB Onlinede 25/09/2008