sexta-feira, 28 de novembro de 2008

País reduz repetência, mas continua entre os piores, diz Unesco

ANTÔNIO GOIS da Folha de S.Paulo, no Rio
FÁBIO TAKAHASHIda Folha de S.Paulo
O Brasil conseguiu reduzir a reprovação no ensino fundamental entre 1999 e 2005, mas a melhoria não tirou o país de uma situação incômoda: entre 150 nações comparadas num estudo que será divulgado pela Unesco hoje, apenas Nepal, Suriname e 12 países africanos têm repetência maior.
Segundo o relatório anual da entidade que monitora o grau de cumprimento das metas traçadas em 2000 na Conferência Mundial de Educação, o Brasil conseguiu reduzir sua repetência de 24% para 19%.
O patamar é elevado quando confrontado com a média mundial (3%) ou mesmo com a África subsaariana (13%), região mais pobre do mundo.
Taxas altas de repetência não resultaram, no caso do Brasil, em melhoria do aprendizado.O relatório lembra que mais de 60% dos alunos brasileiros não conseguiram passar do nível básico de aprendizado na escala da prova de ciências do Pisa (exame que compara os estudantes em 57 países).
"Nossa taxa de repetência ainda é alta", diz a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar.
A representante do governo Lula afirma que a situação melhorará devido ao Ideb (índice criado pelo governo para monitorar o desempenho das redes, que alia resultados dos exames dos alunos da Prova Brasil e as taxas de aprovação desses estudantes).
"O MEC provocou a reflexão na rede, de conjugar aprendizagem com fluxo interessante."
Desgaste
Professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Ocimar Munhoz Alavarse diz que a taxa de reprovação é "alarmante". "Com a repetência, a criança perde o convívio com os colegas e fica com a pecha de repetente. Isso só prejudica", afirma.
"Após ser reprovado, o aluno tem de refazer o mesmo ano, no mesmo formato. A chance de ele aprender é pequena", diz o coordenador-geral da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad.
A professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília) Regina Vinhaes Gracindo afirma que "em muitos países do mundo, como o Japão, nem existe repetência. A criança entra na turma da sua idade, e a escola precisa oferecer a aprendizagem".
Para Gracindo, que é do Conselho Nacional de Educação, a repetência cairá com a melhora do ensino. "Isso requer docentes bem remunerados e melhores condições materiais."
A alta repetência é o maior entrave para a melhoria do Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação, que faz um ranking de países segundo o cumprimento das metas estipuladas em 2000. O país ficou na 80ª posição entre 129 para os quais foi possível calculá-lo. Há quatro anos, a posição brasileira era a 72ª em 127 nações.
O índice é composto de quatro dimensões: acesso à escola, desigualdade de gênero, analfabetismo adulto e qualidade.
Esse último fator é avaliado pelo percentual de alunos que completam ao menos quatro anos de educação formal. Nesse aspecto, o Brasil cai da 80ª para a 99ª posição. Já quando se trata apenas de acesso à escola, sobe para 59ª.
As metas estipuladas são: ampliar a educação e a assistência à primeira infância; garantir o ensino primário gratuito e obrigatório; promover aprendizagem e habilidades para a vida; aumentar em 50% a alfabetização de adultos; alcançar a igualdade de gêneros; e assegurar a qualidade em todos os níveis de ensino.
Fonte: FSP 25/11/2008

A violência e as culpas

CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Um artigo nesta Folha, na quarta, e uma entrevista, ontem, instigantes no atacado, cometem, no varejo, o perigoso ato da condescendência com o crime -quando não da sua justificação. Começo pelo artigo de Dagmar Maria Leopoldi Zibas, mestre em psicologia da educação pela PUC-SP. Para ela, a depredação da Escola Estadual Amadeu Amaral pelos próprios alunos é um ato de revolta contra a má qualidade do ensino. Ressalve-se que o diagnóstico sobre a qualidade do ensino feito por Dagmar é corretíssimo. Daí, no entanto, a justificar a violência vai uma distância que não deve ser percorrida alegremente. Se a má qualidade do serviço público justifica respostas violentas, então o PCC (Primeiro Comando da Capital) está absolvido liminarmente, porque seus protestos, supostamente contra as condições carcerárias, também seriam adequados, posto que as condições carcerárias são realmente ruins. Se os alunos de todas as escolas públicas lessem o artigo, sentir-se-iam estimulados a sair por aí quebrando tudo, já que, com raras exceções, a escola pública é ruim. Joel Birman, professor de teoria psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aplica raciocínio parecido aos saques em Santa Catarina. Diz: "Há um pressuposto de que serei protegido [pelo Estado]. Se não sou, eu vou protestar contra a não-proteção pelo saque, por exemplo." De novo, é um convite a destruir postos de saúde, delegacias de polícia etc. etc. etc. porque, no geral, deixam o cidadão desprotegido. Não seria melhor dar uma segunda olhada e pensar se é mesmo a desproteção do Estado que levou os saqueadores a roubar até o vaso sanitário da costureira Cleuza Hentz, tão vítima de desproteção quanto os saqueadores? Tratar os violentos como "coitadinhos" e vítimas não é desproteger as verdadeiras vítimas?
Fonte: FSP 28/11/08

Evasão e repetência crescem em toda SP

Estudo mostra que índices de não-aprovação aumentaram em todas as áreas das 31 subprefeituras, no ensino médio e no fundamentalSituação é mais grave no ensino médio, em que 11 regiões mais do que dobraram as taxas de não-aprovação; na Sé, piora foi 162%
TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
EVANDRO SPINELLIDA
REPORTAGEM LOCAL
Levando-se em conta a divisão administrativa de São Paulo, a reprovação e a evasão de alunos cresceram em todas as 31 áreas de subprefeituras, tanto no ensino fundamental como no médio. Os dados abrangem escolas públicas -inclusive federais- e privadas.Estudo da Comissão Municipal de Direitos Humanos divulgado ontem, com base nos Censos Escolares de 2005 e 2006, mostra que, em algumas regiões de subprefeituras, o índice de não-aprovação (reprovações mais evasões) mais do que dobrou no período. No fundamental, a situação é mais grave na região de M'Boi Mirim, cuja piora foi de 131%; no médio, a campeã é a Sé, com 162%.A situação é pior no ensino médio: 11 subprefeituras mais do que dobraram as taxas de não-aprovação. Na Sé, 33% dos alunos não foram aprovados em 2006, ante 12% em 2005.
Houve piora também em áreas nobres da cidade. A região da subprefeitura de Pinheiros, que engloba os distritos Alto de Pinheiros, Itaim Bibi, Jardim Paulista e Pinheiros, está entre os que mais pioraram a reprovação e a evasão no ensino médio: em 2005, 12% não foram aprovados; em 2006, a taxa aumentou para 26%.A evasão escolar e a repetência foram os fatores que mais impediram a melhoria dos direitos humanos na cidade, segundo o estudo. Dos 32 indicadores analisados, foi o único que piorou em todas as regiões.
Os dados chamam a atenção por causa da adoção da progressão continuada na rede pública -reprovação apenas no final dos ensinos fundamental e médio. Para o professor da Faculdade de Educação da USP César Minto, a evasão pode estar contribuindo para a piora.
Para o presidente do Sieeesp (sindicato das escolas particulares de São Paulo), José Augusto Lourenço, as escolas públicas foram as responsáveis pela piora nas taxas. Segundo ele, na rede privada os índices permaneceram estáveis."Na escola particular há recuperação fora dos horários de aula. O problema da rede pública é que esse trabalho não é feito", ressalta.
A Secretaria Estadual de Educação disse que não podia comentar os dados, porque eles não estavam separados por rede de ensino e somavam evasão e repetência. A Secretaria Municipal de Educação, procurada no início da tarde, não se manifestou sobre o assunto até a conclusão desta edição.
Fonte: FSP 27/11/08

Maior problema é o baixo salário, diz professor

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para o professor da Faculdade de Educação da USP, César Minto, a alta nos índices de reprovação e evasão escolar está diretamente relacionada com a falta de investimento governamental nas escolas."Cada vez mais, o descaso com as escolas vai se tornando perceptível", diz. "Um porcento de reprovação para mim já é um número alto. Já mostra que os indivíduos não estão sendo respeitados no seu direito à educação."Os índices foram compilados pela Comissão Municipal de Direitos Humanos justamente para avaliar a situação desses direitos nas regiões das subprefeituras da capital.O principal problema, na opinião dele, é a questão salarial. Os baixos salários fazem com que os professores se sintam desestimulados, diz. "Os professores não têm estímulo. Nas escolas que conseguiram preservar a qualidade, [isso] foi graças ao estímulo deles".Ele ressalta ainda que, caso os governos aumentassem os níveis salariais dos professores da rede pública, haveria também um reflexo no salário das redes particulares, já que poderia haver uma migração no fluxo de professores. "Haveria uma evasão do setor privado para o público", afirma.A evasão e a repetência, para ele, também são causadas pelas precárias estruturas escolares. "Na rede estadual de São Paulo não tem biblioteca e laboratório. Não há nem uma previsão de ter. Falo de uma biblioteca e de um laboratório sérios, e não de uma salinha com uma placa", destaca."Não há nenhuma previsão de contratar profissionais para isso. Quantas bibliotecárias da rede pública você já viu?"José Carlos Augusto, presidente do Sieeesp (sindicato das escolas particulares do Estado de São Paulo), concorda. Para ele, a burocracia das redes públicas também é um empecilho para a melhoria na qualidade da infra-estrutura. "Se quebra alguma coisa na escola particular, imediatamente se arruma. Na rede pública tudo demora", diz. "Essa falta de estrutura desestimula os alunos." (TB)
Fonte: FSP 27/11/08

Subprefeitura de Parelheiros lidera em homicídio

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dados divulgados ontem pela Comissão Municipal de Direitos Humanos pretendem ajudar a orientar as políticas públicas criadas na cidade.O órgão compilou 32 indicadores produzidos por diversas instituições públicas e por secretarias estaduais e municipais e os dividiu conforme as regiões de subprefeituras.Foram analisados dados relativos as condições socioeconômicas, mulher, violência, criança e adolescente e negros.Os dados de violência, por exemplo, mostram que em algumas subprefeituras aumentou, de 2005 para 2006, o número de mortes por ação policial. São Mateus é o local onde essas mortes mais ocorreram em 2006, seguido da Penha e da Vila Prudente/Sapopemba.Parelheiros foi a campeã de homicídios e tentativas de homicídio da cidade, com 67,18 casos por 100 mil habitantes. M'Boi Mirim veio em seguida, com 56,15 por 100 mil.A pior renda também fica em Parelheiros, onde 27,03% dos moradores vivem em domicílios com renda per capita inferior a meio salário mínimo, conforme os dados de 2006. A mais rica é a área da subprefeitura de Pinheiros, com 1,64%. As duas subprefeituras são, justamente, as que têm o pior e o melhor IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano).O número de habitantes em favelas também aumentou em algumas regiões. Em Campo Limpo, eram 31,27% em 2006. Em M'Boi Mirim, 22,59%.Na avaliação do presidente da comissão, José Gregori, a situação dos direitos humanos na cidade, no entanto, avançou. "Não há nenhuma subprefeitura em que todos os quesitos tenham piorado." Contudo, todas as 31 subprefeituras apresentaram piora em pelo menos um indicador analisado.O mapa da situação dos direitos humanos da cidade pode ser acessado em www9.prefeitura.sp.gov.br/simdh/.
Fonte: FSP 27/11/08

Como interpretar o vandalismo nas escolas?

DAGMAR M. L. ZIBAS
O vandalismo praticado é um protesto contra a completa desesperança de encontrar na escola a chave para um futuro melhor
DEPOIS DAS impactantes imagens da depredação da escola estadual Amadeu Amaral por seus alunos, em São Paulo, e da desmedida repressão policial, diversos especialistas vieram a público para opinar sobre o lamentável episódio. O diagnóstico de decadência institucional, como levantado pelo professor Sérgio Kodato em entrevista a esta Folha (Cotidiano, 13/11), tende a ser consenso entre os analistas. O que falta é mapear a exata dimensão desse processo e aprofundar o debate sobre as soluções. Remontar à origem da decadência do sistema público não é tarefa fácil. As esferas oficiais tendem a minimizar suas responsabilidades, relacionando as dificuldades constatadas ao grande aumento da matrícula em todo o ensino básico. Mais difícil é reconhecer os efeitos deletérios das políticas dos anos de 1990, que, em São Paulo, são maximizados pela prolongada continuidade político-administrativa no Estado. Na base dessas políticas está o argumento de que os recursos destinados à educação não precisariam ser aumentados, mas apenas mais bem administrados. A decantada valorização do magistério não contemplou aumento de salários que tornasse a carreira docente atraente para jovens mais bem formados. Ao contrário, os professores foram considerados "insumos" secundários, abaixo, por exemplo, da necessidade de distribuição de livros didáticos. Nessa abordagem, o alarmante problema da repetência foi "resolvido" pela adoção de fato da promoção automática, sem que a escola fosse equipada com instrumental adequado para a recuperação de alunos com aprendizagem defasada. O vandalismo praticado é uma forma caótica de chamar a atenção para os repetidos erros e omissões das políticas educacionais. É um grito de revolta pela precariedade das instalações e dos recursos didáticos, pela debilidade da formação do magistério e pelas sofríveis condições do trabalho docente. É um protesto difuso, explosivo e não elaborado, mas claramente voltado contra a implacável deterioração institucional, a inutilidade da freqüência às aulas e a completa desesperança de encontrar na escola a chave para um futuro melhor. Infelizmente, o grau de rebaixamento de todo o processo educativo é de tal ordem que nossos jovens não possuem instrumentos para construir canais mais produtivos para expressar suas frustrações. Nesse sentido, vale lembrar o exemplo dos secundaristas chilenos, que, desde 2006, estão organizados em um movimento de rebelião, às vezes latente e outras vezes explícito, que já rendeu a aprovação de uma nova legislação educacional e alçou os estudantes daquele país à condição de atores políticos essenciais na cena educacional. Entre nós, as soluções para o fracasso do sistema público são conhecidas e se traduzem em antigas reivindicações dos educadores: adequada formação inicial e continuada dos docentes, valorização do magistério, com melhores salários e correspondente responsabilização pelo trabalho realizado, dedicação de tempo integral dos professores a um só estabelecimento, maior permanência diária dos alunos na escola, recursos didáticos ricos e variados (laboratórios, internet, biblioteca, equipamentos esportivos, dispositivos multimídia). Aulas expositivas instigantes, desenvolvimento de projetos interdisciplinares, pesquisas em laboratórios, em bibliotecas, na internet ou no meio social circundante, acompanhamento individualizado das dificuldades e dos progressos de cada estudante, visitas a museus, acesso a teatro, concertos, cinema -tudo isso constitui procedimentos didáticos que se complementam. Com tal estrutura e com tal dinâmica, a motivação para o ensino e para a aprendizagem estaria restabelecida, e banida definitivamente a eclosão de violência. Esse dispendioso projeto é uma utopia ou o Brasil poderia dispor de recursos para realizá-lo? O artigo de Janio de Freitas, na Folha de 13/11, divulga alguns dados do Ipea que podem ajudar a responder a essa questão: de 2000 a 2007, o valor destinado à educação no Brasil foi de R$ 149,9 bilhões; no mesmo período, o valor reservado para pagar juros aos compradores de títulos da dívida pública foi de R$ 1,268 trilhão. Claramente, esse "vandalismo" praticado em cima de nossos recursos supera em muito o vandalismo nas escolas.
DAGMAR MARIA LEOPOLDI ZIBAS, pedagoga, é mestre em psicologia da educação pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e doutora em educação pela USP. Desde 1983, foi pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, aposentando-se em 2008.
Fonte: Folha de SP - 26/11/2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Prefeitura não vai construir mais CEUs

O secretário Alexandre Schneider, da Educação, informou também que as latas de leite em pó deverão ser entregues pelos Correios

Juvenal Pereira
Audiência Pública - Comissão de Finanças O secretário da Educação confirmou que a Prefeitura vai concluir os CEUs, cuja obra já foi iniciada, mas a rede será mantida em 46 unidades.
O secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, anunciou hoje (17/11), durante a audiência pública da Comissão de Finanças da Câmara Municipal, que debateu o Orçamento de 2009, que a Prefeitura não irá construir mais Centros de Educação Unificados, os chamados CEUs, pois “não será prioridade desta administração”.
Ao detalhar o orçamento para os vereadores, Schneider revelou que no próximo ano serão aplicados R$ 191 milhões para novas construções e R$ 65 milhões para reformas e ampliações de escolas. E explicou: “Houve uma redução no valor no item construções porque nós não vamos – pelo menos no ano que vem – iniciar a construção de novos CEUs, a obra mais cara que nós temos. Só para se ter uma idéia, o CEU Feitiço da Vila custou R$ 30 milhões. Até o custeio dessas unidades é muito maior do que das demais unidades escolares.
Só com operação e manutenção dos CEUS, estima-se que o governo municipal gastará R$ 260.330,551,00, isso significa um aumento de 25,2% a mais do que em 2008
O secretário da Educação confirmou que a Prefeitura vai concluir os CEUs, cuja obra já foi iniciada, mas a rede será mantida em 46 unidades.
Schneider prometeu criar 20 mil vagas nas creches - 15 mil na rede conveniada e 5 mil na rede direta. De acordo com o orçamento está previsto gastos, em 2009, de R$ 256.003.844,00, isto é, 5,5% a menos do que em 2008.
Com relação ao fornecimento de uniformes e material escolar para as crianças matriculadas nos Centros de Educação Infantil deverão ser gastos R$ 20 milhões, 42,9% a mais do que em 2008. Indagado pelo vereador Paulo Fiorilo (PT) porque houve esse aumento, o secretário não souber responder.
Leve-leite
As latas de leite em pó fornecidas pela Prefeitura dentro do Programa Leve-Leite não serão mais entregues nas escolas pelas professoras. “O leite deverá será enviado pelos Correios. A ECT ficou de nos apresentar um projeto dentro de seis meses para fazer a entrega, pois precisa contratar mais pessoas e arrumar galpões para armazenar o leite”, informou Schneider. “As escolas não possuem locais para armazenar e as professoras devem se dedicar ao ensino e não a entrega de latas.”

Os vereadores Paulo Fiorilo (PT), Netinho (PSDB), Miltom Leite (DEM), Paulo Frange (PTB), Eliseu Gabriel (PSB) e as vereadoras Mara Gabrilli (PSDB) e Claudete Alves (PT) argüiram o secretário.

Fonte: site da Câmara de São Paulo - 17/11/2008

Comissão de Educação realiza audiência pública para discutir seis projetos de lei

Representantes de entidades pediram para ser retirado da pauta PL que determina que seja realizado nas escolas públicas diagnóstico de dislexia em alunos por equipes multidisciplinares


Foto: Juvenal Pereira
Integrantes da Comissão de Educação ouvem com atenção os argumentos de representantes de entidades a respeito dos PLs

A Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara Municipal de São Paulo realizou nesta quarta-feira (12/11) audiência pública na qual foram debatidos seis projetos de lei:

PL 74/07
De autoria da vereadora Claudete Alves (PT), esse projeto de lei determina ao Executivo Municipal realizar nas escolas públicas por meio de equipes multidisciplinar o diagnóstico de dislexia em alunos.

Ao se pronunciar na audiência pública, Leonardo Lopes, do Conselho Nacional de Psicologia e representando a Comissão de Psicologia e Educação, solicitou “a retirada do projeto, alegando que há uma sobreposição de papéis, uma vez que o SUS prevê que todo tratamento ligado à Saúde deve ser tratado, independente do nível de complexidade, pelo SUS. Se o Executivo estiver legislando a respeito disso, incrementando políticas outras, estaria havendo uma sobreposição de papéis. E uma vez que o SUS obedece a uma legislação federal, o municipal e o estadual estariam intervindo de uma maneira errônea”.

Lopes entende que “o projeto prevê simplesmente um diagnóstico, sem dar amparo para tratamento e encaminhamento acaba acontecendo mais um rótulo, mas um problema sem prever qual será a solução."

O representante do Conselho Nacional de Psicologia foi mais além: “A psicologia se coloca terminantemente a criação de novos rótulos e é o psicólogo que é chamado para fazer o diagnóstico da dislexia, juntamente com psicopedagogo e outros profissionais afins. Os psicólogos escolares têm uma atuação mais ampla do que o simples diagnósticos. Eles atuam na vertente do ensino-aprendizagem."

Os vereadores Beto Custódio (PT), Eliseu Gabriel (PSB) e Myryam Athiê (PDT) concordaram com os argumentos de Lopes e se disseram contrários a aprovação do PL 74/07.

PLs 451/05 e 598/05
De autoria, respectivamente da vereadora Claudete Alves (PT) e do vereador Paulo Fiorilo (PT), que proíbem a colocação de propaganda de qualquer natureza nos uniformes e no material didático dos escolares da Rede Municipal de Educação Pública.

Depois de lamentar o pouco tempo para discutir tantos projetos de lei, Anderson Cruz, representante Distrital do Rotaract Clubs, se manifestou favorável a aprovação desses projetos de lei. “A Educação não é mercadoria”, reagiu. “Com a Lei Cidade Limpa, a administração pública municipal e alguns vereadores querem transformar alunos em 'out-doors' ambulantes”, disse.

Cruz acha que “a propaganda vai fazer com que os uniformes escolares se tornem iguais aos uniformes das equipes de futebol, com o nome de uma empresa na manga, de outra no peito, de outra nas costas”.

A vereadora Myryam Athiê não concordou com as declarações de Cruz. “Sou favorável a colocação de propaganda nos uniformes escolares”, afirmou. “Evidentemente que não vamos fazer da criança um 'out-door' ambulante, mas se houver alguma empresa que seja parceira, amiga da escola e amiga da Prefeitura de São Paulo, não há nenhum problema que a gente coloque o logotipo no uniforme, de forma que podemos usar esse dinheiro que vai sobrar em outras coisas relativas a Educação. Acho que não há nenhum problema que gente tenha um logotipo pequeno para que possamos baratear o custo do uniforme escolar.”

O vereador Eliseu Gabriel (PSB) não é da mesma opinião. “Sou totalmente contra a propaganda nos uniformes escolares. A Educação é pública, é gratuita e não se pode misturar as coisas. Porque a coisa é assim: vamos colocar propaganda nos uniformes, porque assim fica mais barato. Quem disse que fica mais barato? Isso é conversa mole, porque a propaganda começa assim: coloca uma brasão aqui, depois vamos colocar nos caderninhos “Beba Coca-Cola”. Isso desvirtua totalmente a Educação pública, que tem de ser financiada por dinheiro público. Não tem de ter propaganda. A questão não é de mais barato, mas da qualidade da Educação e do sentido público, sem a interferência dos interesses específicos desta ou daquela empresa”.


PL 552/04
De autoria do vereador Antonio Goulart (PMDB) e que dispõe sobre a obrigatoriedade de identificação da escola a qual pertence o aluno nos uniformes escolares distribuídos aos alunos da Rede Municipal de Ensino.

A assessoria do vereador defendeu o projeto de lei, afirmando que a medida torna mais eficiente e clara a identificação do alunos por meio da escola a qual freqüenta. “O PL 552 de 2004 amplia o que dispõe a Lei n° 13.371/02, segundo a qual os alunos da rede municipal já devem usar uniformes ou vestimenta padronizadas, onde conste o nome da escola. De acordo com a nova proposta, a identificação será sobreposta nas peças que compõem o uniforme e consistirá no logotipo de cada unidade de ensino.”

O vereador é de opinião que “se no uniforme constar o nome da escola, será muito mais fácil identificar e contatar a família do aluno, caso haja necessidade”.

Todos os vereadores integrantes da Comissão de Educação foram favoráveis ao projeto.

PL 743/07
De autoria do vereador Donato (PT), determina que a municipalidade garanta o atendimento em período integral a todos os alunos matriculados nas EMEIs.

Ao comentar o projeto, a representante do Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (Sinesp), Marilva Silva Gonçalves Barsan, destacou que a entidade tem uma posição favorável. “Mas, o sindicato tem uma preocupação que seja um projeto baseado numa proposta pedagógica e com o atendimento dessas crianças com pessoas qualificadas. Ou seja, professores de preferência da própria unidade que já tenha um vínculo e uma interação positiva com as crianças”, afirmou.

Além disso, Marilva disse que há a necessidade de haver uma “cronobiologia do ritmo biológico da criança. Se a criança vai permanecer o dia todo na escola, nós temos de saber, de ter conhecimento a respeito do funcionamento do seu ritmo biológico. Não é a todo momento, durante o dia todo que ela vai estar disponível para atividades, raciocínio que envolvam movimentação. Tem momentos do dia que devem estar previsto atividades mais brandas. Por isso, o projeto precisa de uma discussão mais profunda”.

Também foi analisado o PL 562/07, de autoria da vereador Claudete Alves, que cria o Centro Municipal de Atendimento e Apoio à Criança e Adolescente em situações de Rua e/ou Risco.
Fonte: site da Câmara de São Paulo - 12/11/2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pesquisadores sobre a saúde do trabalhador

A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Sul (Feteesul) está desenvolvendo uma pesquisa sobre a saúde dos trabalhadores auxiliares em administração em escolas particulares, encomendada para o Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat).
Todos os sindicatos filiados à Feteesul participam da pesquisa, entre eles o Saaesl e Região.O objetivo é identificar a qualidade do ambiente de trabalho e mapear doenças ocupacionais específicas deste profissionais, para posterior subsídios aos sindicatos na implementação de campanhas de prevenção e negociação de cláusulas específicas para a Convenção Coletiva de Trabalho. A Hora Sindical entrevistou os técnicos do Diesat, que estão aplicando os questionários e também irão desenvolver a etapa quantitativa.

Alecxandra Mari Ito - Psicóloga pela USP e especialista em Saúde Coletiva pela Unifesp. É técnica da Diesat.
Wilson Cesar Ribeiro Campos - Psicólogo pela USP, especialista em Saúde Coletiva pela Unifesp e graduando em filosofia pela USP. É coordenador técnico do Diesat.

HORA SINDICAL: Qual o quadro da saúde dos trabalhadores no Brasil?
DIESAT: Historicamente a saúde dos trabalhadores no Brasil tem sido deixada em segundo plano, geralmente as questões econômicas e salariais são colocadas em primeiro plano. Em 2006 foram contabilizados 503.890 acidentes de trabalho, sendo quase 27 mil doenças relacionadas ao trabalho, no entanto, sabemos que estes dados são subnotificados, ou seja, vários trabalhadores que sofrem acidentes não são registrados através da Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT, ou se adoecem, tem muita dificuldade de ter a doença reconhecida pela perícia médica do INSS. Outro fator que contribui com isso é a pressão para que o trabalhador vá trabalhar, mesmo doente ou necessitando de cuidados para sua saúde. Também, gostaria de destacar o impacto na saúde da má gestão e organização do trabalho, a pressão por produtividade, a extensa jornada de trabalho e o impacto da tecnologia de informação, que intensifica o surgimento do sofrimento mental e do assédio moral no trabalho.
Hora Sindical: E em específico aos trabalhadores da educação?
DIESAT: A saúde dos trabalhadores da educação é uma preocupação crescente entre os especialistas, é evidente o crescimento do número de registros de acidentes e doenças do trabalho neste setor, cada vez mais submetido às regras comerciais, vendo a educação enquanto um produto a ser consumido e não mais como um processo de aquisição e transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade. Verificamos que os educadores docentes e não docentes sofrem com o peso da responsabilidade de estarem diretamente responsáveis pela formação dos futuros cidadãos da nação, mas sem o mesmo status e respeito que a sociedade lhes delegava há alguns anos. As demais condições de trabalho, longas jornadas, a execução de tarefas repetitivas e em condições de pressão pelo tempo têm levado a problemas físicos ligados à sua atividade como os de coluna e articulações e vocais.
Hora Sindical: Quais os principais desafios do ramo da educação para o enfrentamento com uma política eficaz?
DIESAT: Garantir a construção de projetos pedagógicos e de estruturas de ensino que se sustentem apesar da lógica de mercado e que tenha um significado para a comunidade escolar, lidar com os diversos aspectos dos alunos através do uso de outras formas de linguagens e de relacionamentos nos espaços escolares, ocupar e instituir espaços de discussão e de construção coletivos, onde seja possível a troca, não apenas de informações, mas também de idéias.
Hora Sindical: Quais os critérios usados para a realização da pesquisa?
DIESAT: Inicialmente estamos utilizando como base de trabalho os dados oficiais do MEC e do INSS, bem como os dados do sindicato. Nossa preocupação está em cobrir a maior gama de variedades possíveis, considerando para as unidades escolares fatores como o tamanho da instituição, sua localização, fatores regionais e locais, mantenedoras, linha pedagógica de trabalho. Já quanto aos trabalhadores, procuramos considerar os diferentes postos de trabalho, funções e atividades.
Hora Sindical: Quais as etapas da pesquisa? DIESAT: A primeira etapa, chamada genericamente de "qualitativa" é composta de um roteiro de entrevistas pessoais, realizadas com docentes e funcionários de 46 instituições de ensino particular, distribuídas em 9 regiões do Estado do Rio Grande do Sul. A segunda etapa, que chamamos genericamente de "quantitativa" será composta de um questionário fechado que será encaminhado a uma amostra a ser definida com base nos dados apresentados na primeira etapa. É importante ressaltar que todas os dados obtidos são protegidos de modo a preservar as informações pessoais e profissionais de todos os trabalhadores que participarem da pesquisa.
Hora Sindical: Qual a receptividade dos sócios do SAAESL entrevistados para a pesquisa?
DIESAT: Os Sócios do SAAESL tem sido muito receptivos para com a pesquisa, elogiando a iniciativa do sindicato, ressaltando a importância do tema no cotidiano de trabalho e colaborando com uma ótima descrição do ambiente de trabalho, da organização das tarefas e atividades, dos principais problemas de saúde e das principais dificuldades enfrentadas. Em geral há um sentimento de necessidade de compartilhar e debater coletivamente as questões de saúde no trabalho.
Fonte: Hora Sindical de 28/10/08

Remédios: sustos difíceis de engolir

A quantidade de medicamentos retirados do mercado por causade efeitos colaterais graves alarma os consumidores e lança a pergunta: até que ponto se pode confiar nos laboratórios?
Reportagem: Anna Paula Buchalla e Adriana Dias Lopes

Arte: IStock


É um susto atrás do outro para quem toma remédios – ou seja, quase todo mundo. Do dia para a noite, o comprimido que o médico lhe receitou, e que funcionava às mil maravilhas, é banido das farmácias porque se descobriu que pode causar danos à saúde não previstos na bula (ou, pelo menos, não previstos com a ênfase necessária). O que fazer? Não, não adianta interpelar o médico: ele também não sabia. O único jeito é passar a usar outro remédio – em geral, mais antigo e menos eficiente – e esconjurar mentalmente o medo de engrossar a estatística das vítimas dos efeitos colaterais graves e até irreversíveis da medicação.
E eles não são poucos. Vão de distúrbios cardiovasculares e cirrose hepática letal a depressão e suicídio. O primeiro grande susto veio com a saída do mercado do Vioxx, em 2004, quando um estudo o associou a um aumento nos riscos de infarto e derrame. O antiinflamatório era consumido por mais de 85 milhões de pessoas em mais de oitenta países. Nos últimos meses, saíram de cena mais dois antiinflamatórios: o Prexige e o Arcoxia (de 120 miligramas) foram associados a crises hepáticas. O tão aguardado comprimido antibarriga Acomplia também foi recentemente retirado das farmácias, apenas dois anos após o seu lançamento, por aumentar o risco de depressão entre seus usuários. Diante disso, até onde se pode confiar nos medicamentos que continuam em circulação?
Sim, há algo de nebuloso no universo dos remédios. Os problemas têm origem na criação e no aperfeiçoamento de uma nova molécula, estende-se ao marketing agressivo e nem sempre honesto dos laboratórios farmacêuticos e culmina no mau uso do medicamento tanto por parte de muitos pacientes quanto por parte de médicos. Se existe uma boa notícia em terreno tão minado, é a de que, se remédios estão saindo do mercado, é porque a vigilância feita por instituições científicas independentes tornou-se mais eficiente. "Não há dúvida de que o monitoramento se intensificou bastante nos últimos dez anos", diz o médico João Massud Filho, especialista em pesquisa de novos medicamentos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O PREÇO DA SAÚDE
Os laboratórios americanos investem mais de 50 bilhões de dólares por ano em pesquisas. Até chegar às farmácias, um único remédio terá custado 1 bilhão de dólares
A produção de um remédio é um processo longo e caro. Só a indústria americana investe mais de 50 bilhões de dólares por ano em desenvolvimento de medicamentos. Ao chegar às farmácias, um remédio terá custado algo em torno de 1 bilhão de dólares e consumido em média dez anos de investimento. Isso significa que o fabricante tem apenas outros dez anos para vendê-lo com exclusividade, até que vença a patente (ela começa a contar a partir do registro da molécula que dá origem ao medicamento). Depois, o caminho está aberto para a produção de genéricos e os lucros proporcionados pelo remédio caem drasticamente. É, portanto, natural que os fabricantes tenham pressa em lançar um medicamento. O problema é quando a correria implica a piora dos padrões de controle.
Nos últimos anos, as companhias farmacêuticas passaram a pressionar a FDA, a agência americana de controle de medicamentos, para aprovar rapidamente seus produtos – e, a partir dos Estados Unidos, ganhar o mundo. Algumas apelam para o fast track, mecanismo pelo qual um remédio considerado vital pode receber aprovação em menos de seis meses, para colocar à venda fármacos que não parecem assim tão essenciais. "A verdade dolorosa é que muitos medicamentos estão chegando ao mercado depois de testes clínicos inadequados", disse a VEJA a médica americana Marcia Angell, ex-editora da revista científica The New England Journal of Medicine. Um dos melhores exemplos dos perigos envolvidos na aprovação a toque de caixa de um remédio é o que ocorreu com o Rezulin, indicado para o tratamento do diabetes tipo 2. Ele recebeu a chancela da FDA em 1997, apesar das objeções de vários consultores da agência, que apontaram o seu perigo para o fígado. Lançado em meio a uma campanha publicitária agressiva, o Rezulin foi consumido por 700 000 americanos. Depois de três anos, noventa casos de cirrose, dez transplantes de fígado e 63 mortes, essa bomba finalmente foi proibida.
Os laboratórios gastam outro bilhão de dólares em propaganda nos dois primeiros anos de existência de um remédio – o que comporta, não raro, marketing abusivo. Um dos casos mais famosos de descontrole promocional foi o do Neurontin, um remédio para epilepsia criado pela empresa Warner-Lambert, depois adquirida pela Pfizer. De acordo com a americana Melody Petersen, autora do livro Our Daily Meds (algo como Os Remédios Nossos de Cada Dia), médicos foram agraciados com jantares e presentes, quando não dinheiro, para "vender" o remédio a pacientes e a outros médicos como uma droga milagrosa. Em 2004, a Warner-Lambert foi obrigada a pagar 430 milhões de dólares por ter violado as normas acordadas com a FDA e propagandeado o Neurontin como panacéia para distúrbios para os quais não havia sido aprovado, entre eles enxaqueca e dor nas costas.
Apesar de os laboratórios serem proibidos de promover e vender seus remédios para fins diferentes dos que justificaram sua aprovação, um estudo publicado na revista científica on-line PLoS mostra que a indústria tem o hábito de incentivar o uso de seus medicamentos em casos não previstos na bula. Aos médicos é permitido adotar esse tipo de prática quando não há, por exemplo, alternativas terapêuticas aprovadas para a doença. Calcula-se que 60% dos oncologistas utilizem remédios para fins não aprovados. "Nessa situação, porém, a responsabilidade por qualquer evento adverso é apenas do profissional", diz Dirceu Barbano, diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Autora do livro A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos, Marcia Angell acusa a FDA de viver um momento crítico, pelo fato de ter sido estabelecida uma relação de dependência entre a agência e a indústria que ela deveria controlar. A médica diz que, além de terem parte de seu trabalho científico bancada pelas companhias farmacêuticas, vários conselheiros da FDA estão na lista de pagamento dos laboratórios, na qualidade de consultores. Em um artigo publicado em 2005, a revista científica Nature demonstrou que mais da metade das diretrizes elaboradas pela FDA sobre o uso de um medicamento era assinada por um pesquisador ligado à empresa responsável pelo fármaco em análise. Como a FDA ainda é considerada a agência mais rigorosa do mundo, resta a pergunta: até que ponto se pode confiar nos testes clínicos para determinar a eficácia e a segurança de um remédio? Nove de cada dez dessas pesquisas são financiadas pela indústria. Num cenário ideal, os estudos deveriam ser pagos com dinheiro proveniente de entidades públicas. Esses testes, contudo, exigem investimentos tão pesados que só são viáveis à iniciativa privada. "Os problemas existem, mas não se pode demonizar a indústria", diz João Massud Filho, da Unifesp. "Obviamente, há a pesquisa malfeita, mas é impossível prever tudo o que vai acontecer com um medicamento depois que ele chega ao mercado."
Nos últimos quarenta anos, a FDA e a Emea, a agência européia de controle de medicamentos, já retiraram 130 remédios do mercado. "É absolutamente normal que alguns problemas surjam somente após o lançamento", diz Gustavo Kesselring, diretor de pesquisa clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Embora os estudos clínicos com um medicamento tentem rastrear a totalidade dos seus efeitos adversos, estima-se que 5% deles surjam posteriormente à comercialização. É, antes de mais nada, uma questão de escala. Durante a fase de testes, 10.000 voluntários experimentam a medicação. Depois de sua entrada no mercado, o número de usuários passa a ser de milhões. Nesse grau de exposição, é esperado que outros efeitos se manifestem. O segundo aspecto, não menos importante, é que as pessoas que se prestam ao papel de cobaias têm perfil bem delineado. "Os voluntários são cuidadosamente selecionados, a fim de que se obtenha o máximo de segurança e, em conseqüência, aumentem as chances de aprovação do medicamento pela agência reguladora", diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, do Instituto do Coração, em São Paulo. Quando o remédio é lançado, o cenário é completamente diferente. O medicamento passa a ser consumido por pessoas com diferentes hábitos de vida, com outras doenças associadas e que fazem uso das mais diversas medicações. Aliás, as interações medicamentosas têm revelado aos médicos uma série de reações adversas inimagináveis. Muitos dos novos remédios se tornam ineficazes ou perigosos quando combinados com outros.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
A médica americana Marcia Angell denunciou a relação incestuosa entre a FDA e a indústria
Foi a partir da década de 60 que as agências reguladoras de saúde começaram realmente a se preocupar com os efeitos de um medicamento depois de seu lançamento. Até então, na maioria das vezes, já era considerado suficiente o fato de o remédio ter sido aprovado em testes clínicos. Há quarenta anos, no entanto, o escândalo decorrente da utilização da talidomida fez soar o alarme. Aprovado para o controle de náuseas, o medicamento foi consumido por milhares de gestantes ao redor do mundo – e gerou 10 000 crianças com atrofiamento ósseo de braços e pernas. Antes de ser lançada, a talidomida só havia sido testada em ratos de laboratório. A tragédia levou as agências a impor métodos de controle mais rigorosos, inclusive depois da chegada do remédio ao mercado.
Por fim, o comportamento do paciente é decisivo para a segurança e eficácia de um medicamento. O último levantamento do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas constatou que os remédios são a principal causa de intoxicação entre os brasileiros – e os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e antiinflamatórios são os que lideram a lista. Uma das principais causas é a velha e má automedicação. "O mau uso de um remédio pode matar um remédio bom", diz o toxicologista Sergio Graff, da Unifesp. Muitos dos efeitos perniciosos do Acomplia e do Prexige se devem a esse hábito arraigado entre nós de ingerir comprimidos como se fossem jujubas. O primeiro, indicado para casos de obesidade, passou a ser consumido por quem queria enxugar não mais do que 2 quilinhos. O Prexige, assim como outros antiinflamatórios da mesma classe dos inibidores da COX-2, tem indicação para o tratamento de dores agudas. Mas era usado cronicamente para aliviar dores corriqueiras.
Diante dos distúrbios causados pelo Acomplia, a agência européia recomendou que ele fosse retirado das farmácias. Produzido pelo laboratório francês Sanofi-Aventis, o remédio estreou há dois anos com a indicação inédita de agir sobre a gordura visceral – o tecido adiposo que se concentra na região abdominal e predispõe as pessoas a doenças cardiovasculares. Quando passou a ser utilizado em larga escala, o número de casos de depressão surpreendeu as autoridades sanitárias da União Européia. Foram registrados, em seus países, 36 000 episódios de sintomas depressivos – o equivalente a 5% de todos os pacientes do mundo que usaram o medicamento. O fabricante agora avalia a possibilidade de relançar o medicamento com a indicação apenas para pacientes diabéticos e cardíacos. Os benefícios proporcionados pela perda de gordura visceral justificariam os riscos impostos pelo remédio. Isso, no entanto, não garante que o Acomplia não volte a ser ingerido por pessoas saudáveis, que querem apenas se livrar dos pneuzinhos. Assim que saiu a notícia de que o comprimido antibarriga também seria banido das farmácias brasileiras, muita gente correu para o consultório do endocrinologista em busca da última receita do remédio. Infelizmente, não se vende juízo em comprimidos.
Fonte: Revista Veja 5/11/2008

Diesat realiza pesquisa de saúde e ambiente de trabalho nas escolas

A Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Rio Grande do Sul (Feteesul), em parceria com os sindicatos que representa, entre os quais o Sinpro/RS, encomendou ao Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat) uma pesquisa sobre a saúde dos professores e funcionários das instituições de ensino privado do estado.
A sondagem terá três fases e será realizada de setembro a novembro deste ano.O objetivo da sondagem é identificar a qualidade do ambiente de trabalho e mapear as doenças ocupacionais específicas dos educadores e demais profissionais da Educação Superior e do Ensino Básico. “Trata-se de uma pesquisa fundamental para colocar na ordem do dia a questão da saúde do professor e dos trabalhadores em Educação. Especialmente nesse momento em que se discute cada vez mais a qualidade do ensino e o peso da Educação no desenvolvimento do país”, ressalta Wilson Campos, psicólogo especialista em saúde coletiva e integrante do Conselho Científico do Diesat.
Um cruzamento de estatísticas do INSS com outros levantamentos mostra que professores são a terceira categoria profissional em que mais ocorrem afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais, depois dos trabalhadores da construção civil e dos bancários. Os problemas mais comuns são estresse, doenças da voz e coluna, varizes, lesões por esforço repetitivo.
“A proposta da pesquisa é avaliar cientificamente o que as entidades sindicais do setor já vêm constatando ao longo dos anos: o crescente adoecimento dos professores em virtude das jornadas de trabalho cada vez mais extensas”, aponta Cássio Bessa, coordenador-geral da Feteesul e diretor do Sinpro/RS.
Depois de concluída, a sondagem irá subsidiar os sindicatos na implementação de políticas de prevenção junto às escolas e, inclusive, negociar cláusulas nas convenções coletivas de trabalho que protejam mais e garantam melhores condições de trabalho para os professores e funcionários, destaca o dirigente.
METODOLOGIA – A fase qualitativa da pesquisa será realizada nos meses de setembro e outubro e consiste em entrevistas abertas, por amostragem, com professores e funcionários de 46 instituições, em nove regiões do estado. Em novembro será desenvolvida a pesquisa quantitativa, com um número maior de instituições. A sondagem será por meio de questionários elaborados a partir dos resultados da primeira fase e que serão enviados aos professores e demais trabalhadores do setor pelos respectivos sindicatos.
Fonte: Jornal Extra Classe de setembro de 2008

Charge sobre "reportagem" da Veja a respeito da educação nas escolas públicas brasileiras

Artista: Santiago
Fonte: Extra Classe setembro 2008

Carta de repúdio da Prof Dra Nita Freire à revista Veja


"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra PauloFreire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE – e um dos maiores de toda a história da humanidade –, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas ,camufladamente, age em nome do reacionarismo desta. Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituárioda revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos osoutros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo,apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética,c ertamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criadap or Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista. Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário. Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas, sobretudo, pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou – que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela.
Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar. Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão-somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os, e as, que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem, a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire."

Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à reportagem publicada na Veja

Redação Portal IMPRENSA
Ana Maria Araújo Freire, a Nita, viúva de Paulo Freire - um dos maiores educadores brasileiros, criador do método Paulo Freire de educação - divulgou uma carta de repúdio a uma reportagem publicada no dia 20 de agosto na revista Veja, da Editora Abril.
Intitulada "O que estão ensinando a ele?", a matéria discorreu sobre a qualidade do ensino no Brasil baseando-se em uma pesquisa sobre o assunto. Escrita por Monica Weinberg e Camila Pereira, o texto diz que muitos professores "idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização".
A pesquisa mostrou que os professores entrevistados preferem Freire ao físico teórico alemão Albert Einstein. "Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado", afirma o texto da Veja.
Em carta, a educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire registra "sua mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista Veja oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país". Segundo ela, a revista age de maneira "camuflada" em favor reacionarismo "dos poderosos e endinheirados da direita", enodoando pessoas "as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar".
Ela lembra que não é a primeira vez que a revista investe sobre alguém que "é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista". Quando seu marido faleceu, em 1997, o obituário da Veja "apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas", não lamentando sua morte, como fizeram todos os outros veículos de comunicação.
"Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia', esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil", diz a carta de Nita.
Para ela, a Veja está "apavorada" com o que educador plantou, quer torná-lo insignificante e eliminar do espaço escolar "o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião". Entretanto, a historiadora acredita que "querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia".
Procurada pelo Portal IMPRENSA, até o momento a revista Veja não se pronunciou sobre o assunto.
Fonte: Portal Imprensa 15/09/2008

domingo, 2 de novembro de 2008

Deficientes utilizam academias sem adaptação em São Paulo

GISELE LOBATO, MATHEUS MAGENTA e RENATA DO AMARAL
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Deficientes físicos não precisam de locais especializados para praticar esportes, mas nem todas as academias da cidade de São Paulo estão preparadas para recebê-los, segundo levantamento feito pela Folha.
Todos os estabelecimentos de uso coletivo são obrigados a instalar rampas, reservar vagas de estacionamento e adaptar banheiros, entre outras medidas determinadas por lei federal. O cumprimento da norma, no entanto, não é unânime entre as principais academias.
Focada no público feminino, a Curves diz que seu roteiro de exercícios não é adaptado a pessoas com dificuldades de mobilidade. Já a Runner afirma, por meio de sua assessoria, que está reformando suas unidades para torná-las acessíveis.
Outras redes são freqüentadas por deficientes, mas não estão totalmente adaptadas. As três unidades da Competition em São Paulo têm alunos nessa condição, mas apenas a da Paulista possui acesso livre de degraus. Na Oscar Freire, uma nadadora cadeirante precisa do auxílio de funcionários para subir as escadas até a entrada.
Rafael de França treina musculação, boxe e ioga na Bio Ritmo do shopping Pátio Higienópolis, onde entra pela porta de serviço.
Mesmo sem oferecer programas específicos, algumas academias de São Paulo já se dizem aptas a receber qualquer freqüentador. A unidade Jardins da Fórmula, no shopping Eldorado, atende a 38 pessoas com deficiência, muitas em convênio com as ONGs Projeto Próximo Passo e Bombelêla.
Quem não é encaminhado por nenhuma associação não paga mais caro em nenhuma das academias consultadas. Na Fórmula, inclusive, os deficientes têm cerca de 35% de desconto no valor do plano anual.
Além de instalações adequadas, falta preparo dos profissionais para receber deficientes na maioria das academias, na avaliação da diretora-fundadora da ADD (Associação Desportiva para Deficientes), Eliane Miada. "Os professores passam um treino mais leve quando poderiam passar um mais intensivo", exemplifica.
Pelas diretrizes do Ministério da Educação, cursos de educação física devem abordar as necessidades dos deficientes, mas a existência de disciplinas exclusivas para tratar do assunto não é obrigatória.
Professor responsável por educação física adaptada na USP, onde a matéria é obrigatória, Luzimar Raimundo Teixeira afirma que, mais que quebrar barreiras arquitetônicas, as academias precisam quebrar "barreiras de atitude".
Aluno-surpresa
Das dez unidades da Bio Ritmo, a do shopping Pátio Higienópolis é a única com restrições de acesso, mas é lá que o psicólogo Rafael de França, 25, treina musculação, boxe e ioga entrando pela porta de serviço para evitar a escada.
França nasceu com mielomeningocele, patologia que faz com que não sinta as pernas dos joelhos para baixo. Seu início nos esportes foi aos 13 anos, sempre em academias voltadas para o público geral.
"Quando eu percebi que a fisioterapia não ia me colocar de pé, eu saí para a vida", afirma.
Seu professor, Marcelo Ubirajara, diz que a disciplina de ginástica adaptada que cursou na graduação em educação física na Unisa (Universidade de Santo Amaro) e a especialização em fisiologia lhe dão segurança para adaptar as aulas quando é surpreendido por um aluno com restrições --segundo a prefeitura, 10,32% da população de São Paulo tem deficiência, mas não há dados sobre quantos praticam esportes.
A vereadora Mara Gabrilli --tetraplégica após um acidente de carro e primeira titular da Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, criada em 2005-- malha diariamente: faz alongamento, pedala numa bicicleta que exercita os braços e até caminha com ajuda dos choques da eletroestimulação.
Para ela, a atividade física ajuda os deficientes a combater o sedentarismo e ganhar auto-estima. O aluno da Bio Ritmo Rafael de França, no entanto, faz um alerta: "A sociedade enxerga o deficiente ou como o coitadinho, que precisa de tudo, ou como o super-herói que transpõe barreiras. Essa cobrança por superação inibe alguns cadeirantes".
Fonte Folha online de 24/10/2008




Venda de "pílula antibarriga" é suspensa por risco de suicídio e depressão

CLÁUDIA COLLUCCI
FLÁVIA MANTOVANI
AMARÍLIS LAGE da Folha de S.Paulo

A venda do remédio antiobesidade Acomplia (rimonabanto) foi suspensa temporariamente nesta quinta-feira (23) em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o medicamento é comercializado desde abril deste ano. A recomendação sobre a suspensão partiu da Agência Européia de Medicamentos (Emea).
O medicamento é indicado a pessoas obesas e com sobrepeso, mas pesquisas demonstraram que ele pode aumentar o risco de transtornos psiquiátricos graves, como depressão e ansiedade --informações que constam na bula do remédio.
Ontem, o comitê de produtos médicos de uso humano da Emea concluiu, baseado em pesquisas clínicas, que pacientes que usam o Acomplia têm o dobro de chances de desenvolver transtornos psiquiátricos --depressão, ansiedade e problemas de sono-- comparados àqueles que tomaram placebo.
Segundo a agência européia, os resultados do medicamento não compensam seus riscos. A recomendação é que os médicos não devem mais receitar a droga a seus pacientes e precisam rever o tratamento daqueles que a estão tomando.
"Pacientes que estejam tomando Acomplia devem consultar seus médicos para discutir o tratamento. Não é preciso parar de tomar o remédio imediatamente, mas aqueles que queiram parar podem fazer isso a qualquer momento", diz trecho da nota da Emea.
A Anvisa recebeu o pedido do laboratório ontem e hoje deve soltar uma nota sobre o assunto. O órgão orienta os médicos a pararem de receitar imediatamente o remédio e os pacientes que usam o medicamento a procurarem seu médico para receber uma nova orientação.
Segundo Antônio Roberto Chacra, chefe da disciplina de endocrinogia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o Acomplia sempre teve efeitos colaterais discutíveis. "Apóio a decisão da suspensão. Medicações devem sempre ajudar. Se houver qualquer risco, tem que suspender mesmo."
Ele diz que receitava pouco o remédio e que seus pacientes não tiveram efeitos colaterais graves, mas alguns ficaram emocionalmente instáveis. "O laboratório sempre avisou que o medicamento não deveria ser usado com fins estéticos, apenas em pacientes com fatores de risco, com uma obesidade muito grande. Mas, com esses estudos, é melhor suspender."
Ele diz que as melhores alternativas ao medicamento são dieta e exercício, que não trazem esse tipo de efeito colateral. "Mas, às vezes, é difícil, o paciente quer o remédio."
Outro lado
Segundo Jaderson Lima, diretor médico da Sanofi Aventis, a empresa ainda aposta na relação risco/benefício do remédio e está desenvolvendo estudos para obter a aprovação do seu uso para diabéticos e pacientes com risco cardiovascular. Ele afirma que nenhum comitê de segurança independente --que avalia, entre outras coisas, a segurança da droga-- vetou a continuidade dos estudos.
O Acomplia é comercializado em 18 países da Europa, além da América Latina, entre outros, com 700 mil usuários no mundo --30 mil no Brasil. "A empresa decidiu se antecipar e suspender em todo o mundo. Não é recall. O produto não tem defeito", afirma Lima.
Segundo ele, os dados recentes indicam que a relação risco/benefício não se justifica ao grupo de paciente para o qual ele foi aprovado. "As contra-indicações e as orientações da bula não foram suficientes para minimizar os riscos."
Histórico
Comercializado na Europa desde 2006, o Acomplia chegou a ser considerado uma das maiores promessas da indústria farmacêutica no combate à obesidade. Em junho de 2007, ele foi vetado pela FDA (agência norte-americana que regula alimentos e fármacos), que pediu mais estudos sobre os seus efeitos colaterais, especialmente os distúrbios psiquiátricos e risco de suicídios.
O comitê da FDA revisou os resultados de um amplo programa de 59 estudos clínicos que envolveram mais de 15 mil pacientes. Dados adicionais sobre a segurança do rimonabanto foram obtidos a partir de estudos ainda em andamento e de mais de 110 mil pessoas que já tomaram o rimonabanto na Europa e em outros países. O veto se apoiou no mesma razão que levou a Emea a recomendar agora a suspensão.
No Brasil, a droga foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no ano passado, mas só começou a ser vendido neste ano por conta de um impasse sobre o preço.
Mesmo diante das pesquisas internacionais que demonstravam o risco do remédio, médicos brasileiros defendiam o Acomplia e diziam acreditar que ele trazia mais benefícios do que riscos.

Fonte Folha online de 24/10/2008

44% das crianças têm colesterol elevado

JULLIANE SILVEIRA da Folha de S.Paulo
MAURÍCIO SIMIONATO da Agência Folha, em Campinas

Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com 1.937 crianças e adolescentes entre dois e 19 anos atendidos no Hospital das Clínicas da universidade constatou que quase metade deles possui índices altos de colesterol e triglicérides.
Segundo o estudo, realizado entre 2000 e 2007, 44% dos pesquisados apresentaram índices elevados de colesterol.
"Eu exagerava nos alimentos ricos em gordura quando tinha 11 anos e meu colesterol estava em 269 mg/dL. Então iniciei o tratamento com dieta e esportes. Hoje meu colesterol é 160 mg/dL", diz a estudante Jéssica Rossi Ruggeri, 17, que ainda precisa diminuir seu índice.
A pesquisadora responsável, Eliana Cotta de Faria, do Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, atribui os altos índices a fatores de risco como sedentarismo, má alimentação, obesidade e diabetes, além da hereditariedade.
De acordo com a pesquisa, 44% das crianças entre dois e nove anos apresentaram valores alterados do colesterol total, 36%, do LDL (colesterol ruim) e 56%, dos triglicérides. Os altos índices de triglicérides estão associados a um risco maior de doença coronariana.
O resultado foi muito similar no grupo dos adolescentes e jovens de dez a 19 anos. "Não é de se estranhar que a população hospitalar tivesse índices um pouco mais altos. Mas não imaginávamos que estes índices seriam tão altos", diz Faria.
Não há dados brasileiros sobre a taxa de colesterol entre crianças e adolescentes, e, segundo Ieda Jatene, presidente do departamento de cardiologia pediátrica da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) não é possível extrapolar os números encontrados na Unicamp para o resto do país.
Gordura trans
Para Roseli Sarni, pediatra e presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, uma das explicações para os níveis elevados de colesterol, além de maus hábitos alimentares em geral, é o mau entendimento dos rótulos de produtos com gordura trans. "Quando a mãe lê zero, ela entende que o alimento é livre desse tipo de gordura, o que não é verdade", diz. A legislação admite que o fabricante diga que seu produto tem "0% de gordura trans" quando tem até 0,2 g do elemento por porção. Com isso, a criança é liberada a consumir alimentos com esse tipo de gordura.
A prevenção, segundo Eliana Faria, começa com o estilo de vida da família, que é transposto para a realidade da criança. "Uma criança não pode decidir comer mais legumes se os pais não compram legumes", diz.
Para diminuir os níveis de colesterol no sangue, devem ser priorizados dieta balanceada e exercícios físicos. É preciso estimular o consumo de frutas, verduras, legumes e peixes marinhos, reduzir o consumo de óleos, açúcares e gorduras e preferir alimentos integrais.
As mudanças, no entanto, não devem ser drásticas, pois a criança pode ficar ainda mais resistente em mudar sua alimentação. "Começamos com uma mudança quantitativa, para depois fazer a qualitativa", diz Sarni. Isto é: o recomendado é reduzir alimentos que aumentam o colesterol ruim, para, gradativamente, substituí-los por opções mais saudáveis.
Medicamentos
Em julho, a Academia Americana de Pediatria tomou uma decisão radical em relação às crianças com colesterol alto: orientou que os pequenos acima de oito anos sejam medicados com drogas (estatinas) para prevenir doenças cardíacas.
No Brasil, os pediatras indicam medicamentos a partir dos dez anos, mas apenas para crianças com uma doença genética chamada hipercolesterolemia familiar, que eleva os níveis de colesterol, independentemente do estilo de vida. Para as demais, eles defendem uma dieta equilibrada associada a exercícios físicos.
A cautela tem justificativa. Não há estudos a longo prazo sobre o uso das estatinas em crianças ou que mostrem que, usando a medicação precocemente, elas estarão mais protegidas do que aquelas que iniciaram a terapia na vida adulta.
Fonte Folha online de 16/10/2008

Cientistas conseguem apagar memória específica de camundongo

Da Agência Estado em São Paulo

A eliminação seletiva de memórias deixou de ser apenas ficção científica - ao menos no caso dos camundongos. Um grupo de pesquisadores da Universidade da China Oriental, em Xangai, e da Faculdade de Medicina da Geórgia, nos Estados Unidos, conseguiu apagar recordações específicas do cérebro dos roedores sem danificar as estruturas neuronais ou prejudicar outras lembranças.
O estudo foi publicado na revista científica Neuron. Os pesquisadores eliminaram memórias relacionadas a situações dolorosas e ao conhecimento de objetos previamente apresentados às cobaias. Os cientistas já sabiam que a enzima aCaMKII, presente no cérebro dos roedores, desempenhava um papel importante nos processos de memorização e aprendizagem.Para conhecer melhor o funcionamento da substância, criaram uma linhagem de camundongos transgênicos que produziam, na parte anterior do cérebro, uma quantidade excepcionalmente alta da enzima. Os camundongos geneticamente modificados foram submetidos, então, a diferentes testes de memória. Ficou claro que as recordações evocadas pelos roedores enquanto o nível da enzima estava alto eram apagadas de forma seletiva, irremediável e quase instantânea. Somente quando a cobaia estava sob o efeito da substância inibidora é que as memórias permaneciam intactas.
Traumas
O co-autor da pesquisa, Joe Tsien, afirmou que o conhecimento obtido poderá ser útil no futuro para tratar pessoas com estresse pós-traumático ou com medos associados a lembranças desagradáveis. Mas ele considera que qualquer terapia vai demorar muito para chegar. "Provavelmente, não estarei vivo quando ela surgir", considerou Tsien. Ele também recorda que a estrutura do cérebro humano é muito mais complexa.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Fonte Uol Ciência de 23/10/2008 - 09h30